sábado, 25 de julho de 2009

Mais sós

Não pode o responsável por este blogue deixar passar sem uma palavra, o acontecimento triste que foi o falecimento da nossa colega Laura Salomé. Não podemos, por meras palavras, explicar o quanto estamos tristes. Quem a conheceu sabe as razões dessa tristeza, pois certamente as partilha connosco. Possamos todos, nesta hora, compreender o seu exemplo - se me permitem, a sua grandeza, a elegância com que sempre se dirigia a todos. Não a elegância de aparência, mas a elegância de quem realmente se interessa pelo Outro. A mim, ficará sempre nos meus ouvidos a pergunta que sempre me fazia... "Como vão os seus meninos?", pergunta que sempre senti de sincera preocupação.
Assim, gostaria que todos tivéssemos aprendido alguma coisa com a Laura, a capacidade que tinha para, apesar de tudo, encontrar a palavra certa e de amizade, que nos fazia estarmos menos sós.

Tempo

Costuma-se dizer que o tempo passa depressa. Por isso temos de saber usá-lo com cuidado, pois escapa-se entre os nossos dedos. Numa sociedade que aparentemente, e só aparentemente, valoriza os jovens, diz-se que o tempo é precioso, mas criamos coisas que nos afastam de uma vida mais vivida.
Talvez este video te dê uma visão mais presente de como o tempo passa depressa. Daqui a pouco, (quem sabe?), estarás tu no meu lugar a escrever para outros jovens?

Grandeur Nature 2007 timelapse movie from David Coiffier on Vimeo.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Sugestão para as ...férias

Digamos que vai passear. A nossa sugestão é que leve um guia de observação de aves e um binóculo e tente identificar muita da enorme diversidade de aves existente em Portugal... Algumas estão mesmo nos nossos parques e jardins...

A observação de aves é uma actividade cada vez mais comum e traz ao nosso país um bom número de turistas...

Vamos experimentar??

Name That Bird from timvid on Vimeo.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

CONCURSO DAR VOZ À POESIA




LISTA DE PREMIADOS
13.ª edição – 2008-2009

1.º PRÉMIO

GRUPO A
alunos do 1.º ciclo

Maria Miguel Pereira Serafim Rodrigues Cavaco – 8 anos (3.º ano – Colégio Nossa Senhora do Alto - Faro)

Poema «Bichinhos de Gaiola»


BICHINHOS DE GAIOLA

Pobre bichinho
Preso numa gaiola,
Sente a solidão
E existe um mundo lá fora.

Oh, passarinho,
De que te serve cantar?
Se o teu desejo
Era poder voar.

Oh, peixinho,
Dentro dum aquário
Dás voltas e voltas
No teu imaginário.

Oh, cãozinho,
Acorrentado
Que fazes tu aí?
Tão maltratado.

Oh, leãozinho,
Enjaulado
Já nem te recordas do cheiro da savana
Onde foste criado.

Pobre bichinho
Preso numa gaiola
Como seria bom viver
No mundo lá fora...





MENÇÃO HONROSA

GRUPO A
alunos do 1.º ciclo

André Filipe de Vasconcelos Dias Ferreira e Teixeira - 9 anos (4.º ano – Estabelecimento de Ensino Santa Joana – Aveiro)

Poema «A Minha Quinta»


A MINHA QUINTA

Gosto muito de animais
da minha bonita quinta,
alguns deles são rivais,
mas todos têm muita pinta.

De manhã canta o galo
enquanto eu planeio
ir montar no meu cavalo
para dar um bom passeio.

Tenho um cão que me dá mimo
e que também vai à caça,
mas se um estranho está mais perto,
é uma perfeita desgraça.

O meu gato é siamês,
tem um lindo pêlo branco,
tenho uma cabra montês
e são ambos um encanto.

Tenho um canário amarelo
e uma vaca pintalgada,
o canário canta o belo,
a vaca fica calada.

À noite é um delírio
para recolher as ovelhas,
é um verdadeiro martírio
parecem enxames de abelhas.

A vida de animais é bela
na quinta de que tanto gosto,
não há outra igual a ela
tenho a certeza, até aposto.



1º LUGAR

GRUPO B
alunos do 2.º/ 3.º ciclo

Emídio Gil Dias Valente Maia – 14 anos (9.º ano – Colégio Nossa Senhora do Rosário)

Poema «A Voz»


A VOZ

Por entre montanhas e veredas,
campos e socalcos,
havia uma voz,
uma voz há muito soterrada,
mas que nunca se calava.

No terror e nos corredores da morte,
nas porfias e nas ilusões,
a voz acesa cantava,
a mais bela das canções.

Cantava a liberdade,
apesar de rodeada de vultos,
cantava a igualdade,
apesar dos contrastes.

Havia ainda outra voz,
que morreu a prosear,
falou pelos que nunca falaram,
falou para companheiros poder libertar.

Depois da liberdade,
nasceu uma voz, e outra, e outra,
hoje, as vozes continuam acesas,
e nunca se hão-de apagar.




MENÇÃO HONROSA

GRUPO B
alunos do 2.º/ 3.º ciclo

Bárbara Catarina Viegas Santos – 14 anos (8.º ano – Escola Básica e Secundária da Calheta – São Jorge)

Poema «Todos diferentes, todos iguais»



TODOS DIFERENTES, TODOS IGUAIS!

Porque sou pequena, levo um sermão!
Não tenho direito a opinião!
Porque sou mais velho, tenho razão!
Porque sou pobre, não tenho pão!
Porque sou rico, tenho o mundo na mão!
Porque sou homem, sou poderoso e forte!
Porque sou mulher, sou que mais sofre!
Porque sou branca, sou uma pessoa normal!
Porque sou de outra raça, tenho uma doença mortal!
Porque sou grande, fico no topo!
Porque sou pequeno, contento-me com pouco!
Porque sou magra, sou modelo... obra de arte!
Porque sou gorda, sou posta de parte!

Porque sou diferente, sou julgado,
Não há ninguém que fique do meu lado!

Porque tem de ser assim?
Porque temos de mudar,
Pelo que os outros possam pensar?

Se tudo fosse tão simples, como parece ser!
Se o mundo mudasse pelo amanhecer?
Seríamos livres,
Livres para voar,
Para sonhar,
Para viver!
Seríamos únicos, como sempre desejamos ser!



1º LUGAR

GRUPO C
alunos do Ensino Secundário

Mário João Rosas Rebelo Correia – 17 anos (12.º ano – Escola Secundária c/ 3.º Ciclo João Gonçalves Zarco - Matosinhos)

Poema «Vinícius de Moraes»




VINÍCIUS DE MORAES

Ele não fuma,
ele toma a chávena de cigarro,
ele vinifica a vida amortalhada
em fósforos vulcânicos de enxofre
como quem pega o violão
e traça no harpejo do ar o fumo da mulher
e no harpejo da mulher o eflúvio do ar.
Ele trava a vida nos pulmões
e não lhe importa a morte do seu gesto sem sentido,
porque o sente,
tacteia acima do vi-gente.
Ele trava a vida nos pulmões
e despe-se da farda do pudor.
Vive os copos avenidas do amor.
Punge como as sombras azuladas,
como as fadas a brincar aos foguetões.
Ele é o infinito dos pulmões.




MENÇÃO HONROSA
GRUPO C
alunos do Ensino Secundário

Daniel Filipe Silva de Jesus – 17 anos (11.º ano – Escola Secundária Mouzinho da Silveira - Portalegre)

Poema «Cultismo»


CULTISMO

Levitam pernas num espaço.
Existem cabelos humanos no chão, e cabeças.
Num ambiente de sonho desgraçado
Observo isto.
Durante o café “das seis”.
Às portas da morte, sentado, à espera da vida.
Como um nada.
Um empregado vem ao meu encontro.
Oiço a sua voz distorcida e grave
E a sua imagem enevoada e triste
Pousando delicadamente o café sobre a mesa
E retirando-se como um subordinado competente.
Fumaça, relógios, papelada e vozes humanas que se derrubam
Escorrem do interior de uma caixa de música barulhenta
Vem o velho
Vai a velha
Vem o café
Sai uma imperial
Entra gente. Sai gente.
Mais um misto por favor.
E em mim... Amolece uma vela sangrenta
Colada aos confins da mente.
Não tenho o corpo.
Existe em mim uma sensibilidade esmoreci da
E derrubo o café
E derrubo a vida
E solto um grito absurdo e sem vontade.
Levanto-me como um lúcido
Um, dois, três, quatro...
Só humanidade... só humanidade vestida
E repleta de tudo.
Olha, filho, que eu não tenho,
Isto, é a humanidade!
Pago.
E saio pela porta
Como quem tem destino.



1º LUGAR

GRUPO D
alunos do Ensino Universitário

Nuno Miguel da Silva Sampaio - 30 anos (Universidade Católica Portuguesa – Centro Regional de Braga – 3.º ano – curso de Ciências de Comunicação)

Poema «Funeral Folk»


FUNERAL FOLK

amanhã é o meu funeral.
tenho que alugar um fato preto: uma camisa branca e uns sapatos de verniz pretos ¬daqueles fatos usados nas festas, daqueles usados quando nasce alguém.
apenas o posso alugar por um dia.
eu não tenho uma gravata preta, não tenho um fato preto nem uma camisa branca.
não tenho sapatos de verniz pretos.
decidi morrer agora.
assim ainda tenho tempo de entregar tudo - lavado e passado - amanhã até ao meio-dia. eu não tenho uma gravata preta; eu também não tenho um fato preto.
não tenho uma camisa branca.
não tenho sapatos, ando sempre descalço.
eu nunca fui a uma festa - esta será a minha primeira. estou nervoso.
nunca morri antes.
dizem que se é frio quando se morre.
eu tenho muito medo do frio.
estou feliz: o preto e o branco são as minhas não-cores preferidas.
já tratei da música e das bebidas.
ainda faltam os convites.
acho que vou telefonar.
foi tudo tão rápido; não tenho tempo para cartas nem postais baratos.
acho que vou telefonar.
talvez consiga música ao vivo, ou... ao morto. talvez consiga.
fica aqui o convite.
espero por todos vocês, ontem, no meu funeral.
9 canções:
#1
esquecer a minha ida de caixão aberto
#2
representar um salto inglório no cimo do céu
#3
escutar a doença
#4
alternar a minha ausência com alguma solidão
#5
passear a céu aberto
#6
ensinar o coração a parar
#7
fixar um ponto entre o dia e a noite
#8
morrer de vez em quando
#9
atirar um punhado de terra molhada para dentro de uma vala e ser muito feliz
uma canção
#
fotografar o meu sorriso cá de baixo



MENÇÃO HONROSA

GRUPO D
alunos do Ensino Universitário

João André Estima dos Santos Paula – 23 anos (Departamento de Engenharia Mecânica - Universidade de Aveiro – 5.º ano – mestrando em Engenharia Mecânica)

Poema «Equação»


EQUAÇÃO

Se eu te explicasse que
a força é a massa multiplicada pela aceleração,
conseguias medir a força da minha atracção?

E se eu te demonstrasse que
para qualquer acção vem sempre uma reacção,
conseguias definir o que sinto quando me dás a mão?

Ou, se eu te dissesse que
o batimento define-se com frequências de excitação,
conseguias dizer-me como é que bate o meu coração?

Eu contigo arranjei uma equação matemática de simetria
que nos faz ser equivalentes um ao outro, em sintonia,
que faz com que tudo no mundo seja mais bonito,
num limite especial que nos tende até ao infinito...

Se eu te explicasse que
as cores são ondas onde nunca ninguém vai nadar,
conseguias ver melhor quando me fazes corar?

E se eu te demonstrasse que
todos os materiais se podem deformar,
conseguias provar-me que derreto com o teu olhar?

Ou, se eu te dissesse que
tudo o que gira tem velocidade angular,
conseguias sentir a minha alma a rodopiar?

Arranjei uma equação de sangue, lágrimas e suor,
e tanto a estudei que já a sei de cor!

Mas ainda não sei o nome que lhe vou pôr!
Talvez a baptize de “equação do amor”...



1º LUGAR
GRUPO E Docentes

Ana Paula Mateus – professora de Português – Escola Secundária Eça de Queirós – Póvoa de Varzim



UM PUNHADO DE PALAVRAS

Trago um punhado de palavras
guardadas nas mãos em concha.
Encontrei-as nos livros, ditas pelos poetas...
Li-as nas estrelas... Emprestaram-mas os deuses...
Roubei-as à tua boca.
São palavras brilhantes, luminosas,
palavras de riso claro,
sussurradas ao ouvido no instante do abraço,
palavras ardentes, soltas
no beijo dado com a urgência da saudade.
São palavras perfumadas,
cheiram a eucalipto orvalhado pela manhã,
cheiram a velas queimadas em dia de aniversário,
cheiram a terra molhada
e a relva acabada de cortar...
São palavras musicais, como um espanta-espíritos
em dança vadia com o vento ao cair da tarde...
Foram escritas na areia da praia,
sobrevivendo aos vendavais
e aos pés descalços dos caminhantes,
à fúria das gaivotas e ao abraço salgado
das ondas inconstantes...
São fortes e indeléveis.
São eternas as minhas palavras.

E quando às vezes me engano na estrada
ou me perco nos caminhos,
quando sinto os passos cansados ou inseguros,
sento-me na berma e olho-as de frente,
tatuadas na pele gasta das mãos calejadas...

Leio-as muitas e muitas vezes...

Repito-as baixinho...

E passa-me o frio cá dentro.




MENÇÃO HONROSA – EX-AEQUO

GRUPO E Docentes

1 - Ilídia Henrique Ferreira Vale (aposentada)

LIBERDADE

Não basta nascer e habitar na orla do abismo
Pisando o trilho incerto da hora fixa.
Importa ser livre!

Soltar a amarra e zarpar...
De cais em cais...
E em cada onda, quando ela sorrir,
Desbragando a espuma contra as praias,
Gritar que há só uma vida
E só vivida cumpre em nós as madrugadas!...
Fazer dessa vida canto interminável
E semear esse canto num campo lavrado a cada hora
E colher o fruto nas beiradas,
Gozando plenamente o seu sabor.
Verde e ácido ou maduro e bichento
(Que vale o que é por fora,
Se nos faz tão bem por dentro?)

Deixar lá longe os desassossegos
De timbres e brasões e glórias,
Ladrões do sono!
Que valem as verdades axiomáticas,
Insofismáveis leis e postulados?
Para que servem sábias teses sociais, hábeis teorias económicas,
Sensatas coligações políticas?
(Ah! Como empecilham a passada e a linguagem!...)

Poder dizer sim ou não, quando queremos a verdade.
E sem atropelo, nem ofensa, nem traição,
Tomar outra passada e outra aragem...
Outra condição…
Isso, sim, é Liberdade!

Ai como é mesmo bom
Dançar ao sol e à chuva!
Colher as flores silvestres ou, simplesmente, olhar para elas
Como quem vê anjos e assombros e prodígios ao vento baloiçando
Como um cantar alentejano. Ou apenas respirar
Como quem canta só com fricativas:


Veio um frio
Vendaval.. .
Voa a folha,
Frágil folha,
Lá do vale...

Freme a folha,
Varre-a o vento.
Vira a folha
Vira e volta.
Fica a folha
Noutro vale...

Foi-se a vida.
Mas foi livre,
Viva a folha,
Feliz folha,
Ao vendaval!...

Isso, sim, é Liberdade!
Simplesmente, Liberdade. Por exemplo...

Para pegar nos velhos alfarrábios
E, conjugando as regras da poesia,
Subtil o engenho e o estro à revelia,
Dizer que as rosas nascem nos teus lábios...

Ou para dar ao vento os meus segredos
Sabendo, de antemão, que não têm preço
E o boomerang trazer no regresso
A chave de uma vida sem degredos…

E apenas com os limites da humildade,
Poder escolher o chão e a paisagem,
Em cada hora, em cada condição…

Enfim, desta palavra Liberdade
Fazer salvo-conduto para a viagem,
E ter o Amor como única prisão!...

2 - Joaquim Nogueira Castro Marques (Escola Secundária da Portela de Sacavém – Loures)

Poema «Há árvores que são âncoras»


HÁ ÁRVORES QUE SÃO ÂNCORAS

Quando as palavras
criam raízes de água
e os frutos
são de sal
e são de algas
os poetas costumam
poisar as suas canetas
e pôr ao peito
Rosas do Vento
enquanto olham
as árvores como âncoras

E quando
há uma sombra
debaixo dos ramos
dos dias que já foram
na foz de cada sílaba
pela vida devorados

Nessa altura
não me sei
se poeta
a enterrar
as mãos no lodo
da saudade
para encontrar um verso
aí caído

Se marinheiro
a procurar no céu
uma estrela guia
que me perdesse
num canto de sereia

Se ave nocturna
em demanda de horizonte
num anseio
de luz
e de folhagem



1.º PRÉMIO

GRUPO F - Pessoal Auxiliar e Administrativo e elementos das Associações de Pais

Maria Margarida Mendes Santos Pinto (auxiliar da acção educativa – Escola Secundária c/ 3.º ciclo Afonso de Albuquerque)

Poema «Antagonismo»





ANTAGONISMO

Paralelamente
À estrada isolada
Há um curso de água…
Nem sempre os pássaros
chilreiam!

Lá, naquele charco,
Gansos pretos
Costumam aparecer…
Grasnam desafiando
o temor!

Isolacionista,
o homem da caverna
Canta a melodia…
Faz-se pausa,
Tudo é quimera!




MENÇÃO HONROSA

GRUPO F - Pessoal Auxiliar e Administrativo e elementos das Associações de Pais

Maria Fernanda Dias Lemos (Escola E.B – 1 Américo Urbano - Fermentelos)

Poema «Cinzento»





A culpa foi do dia que amanheceu cinzento
um cinzento absurdo, sem definição, opressor,
espaços reduzidos, árvores sem cor.

Amarras nas asas do meu contentamento?
A culpa foi do dia que amanheceu cinzento.

A culpa foi do dia que amanheceu cinzento
(e como abomino o preto e o cinzento)
cansei-me de ser gente. Alojou-se a minha alma
nas pedras dos caminhos dormentes.

A culpa foi do dia que amanheceu cinzento
não me sobrou um lugar para chorar
e os meus olhos afogaram-se em lágrimas de sal.



1º LUGAR

GRUPO G
cidadãos emigrantes de nacionalidade Portuguesa


Elisabete Marques

Poema: «Ruínas»






RUÍNAS

Lentamente, uma cama desfeita
metros de lençóis definem-se no chão
a cabeça lateja sepultada na almofada.
Um quarto vazio onde se aprende o amor ou a morte.
Sobre a pele, outra pele mineral a abandona.
Junto às decrépitas janelas
a paisagem conserva o espesso travo da chuva
caída na claridade das ruas.
Agosto ilude em cada embate de luz.
Há um incêndio repassado de música
dourada em noites de claras formas,
uma voz quente que almeja sair do lume para gritar.
É ao entrar no quarto que a voz vai subindo,
chorando palavras dolentes
sobre os lábios ofegantes da mulher.
Ela pega no poema e dobra-o duas vezes.
Repete frente ao espelho empedernido:
A primeira imagem da manhã é um branco coração devorado.



MENÇÃO HONROSA

GRUPO G
cidadãos emigrantes de nacionalidade Portuguesa


João Silva Maia

Poema: «D.M.F. 80»







D.M.F.80

A David Mourão-Ferreira, no dia em que completaria 80 anos


Acende-o,
o cachimbo,
como se fósforo
rimasse com tabaco, embora não no Bósforo
em dia de nevoeiro opaco.

Sorve-o,
o cachimbo,
e dele em vez de fumo,
artigo de consumo,
saem versos
os mais diversos.



1º LUGAR

GRUPO H
cidadãos de países de Língua Oficial Portuguesa

Humberto Jorge de Almeida Costa

Poema: «Todos os dias»








TODOS OS DIAS

Todos os dias
Vens pela berma, com a mão a temer
A saída saltitante da saia em rodopio.

Trazes oculta na viragem dos teus cabelos,
A ânsia. A brisa contida do entardecer dos mares.

Todos os dias
Trazes-me um sopro de agonia,
Errante, no beijo dos teus lábios incertos.
É essa renúncia tua à alegria fútil
Que me leva ao esvoaço
De uma ave com chumbo na asa
E me transporta ao sabor lacónico das noites tristes.



MENÇÃO HONROSA

GRUPO H
cidadãos de Países de Língua Oficial Portuguesa


Simone Pedersen

Poema: «O que fomos»







O QUE FOMOS

As flores secas e sem vida
No vaso de cristal sob a mesa
Mostram um tempo que já se foi
E do que fomos eu e você

O perfume que não mais embriaga
A beleza que não mais encanta
No gesto o amor contido
Despetalado e exaurido

Houve um tempo de sementes
Antes de florescer o nosso amor
Fecundadas e entrelaçadas, no ventre de uma paixão

Siameses desenvolvemos laços infinitos
Sem espaço para ser um mais um
Sufocados, ressentidos, somos hoje nenhum

Cartazes da associação 25 de abril

 Estes são alguns cartazes da Associação 25 de abril. Vê mais cartazes